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emRede - folha informativa

Sessão "Desafios da Agricultura do Futuro - Projetos Diferenciadores no Alentejo"

Workshop desafios agri DRAPLVTA Direção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo (DRAP Alentejo) realizou, no dia 30 de novembro de 2019, no Auditório da Feira do Montado, em Portel, uma sessão intitulada “Desafios da agricultura do futuro – projetos diferenciadores no Alentejo”.

A sessão teve como objetivo promover a partilha de conhecimento e experiências inspiradoras, que se assumem como um vetor estimulador do território, expondo e contrariando os desafios que atualmente se impõem ao setor da agricultura, nomeadamente, no que diz respeito à sustentabilidade e adaptação de espécies às alterações climáticas.

Na sessão de abertura o Diretor Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo, José Godinho Calado, louvou a iniciativa afirmando que a temática da sessão é uma preocupação real e que “A agricultura do futuro é a continuação daquilo que tem sido a estratégia dos últimos anos, basta olhar para os objetivos da PAC 2027 e verificar que um deles é claramente direcionado para a dinâmica da economia, para a agricultura inteligente e para a colocação das tecnologias ao nosso dispor para produzir alimentos.” O Futuro passará necessariamente pela sustentabilidade, “olhar para essa relação ambiente, clima e produção de alimentos, ou seja, como continuar a produzir mantendo os recursos”.

Também o Presidente da Câmara Municipal de Portel, José Manuel Clemente Grilo afirmou que “a Feira do Montado é uma feira que se destaca não só pelos bons produtos mas por todo o evento cultural e, muito particularmente, por este encontro de produtores, investigadores, de muita gente ligada ao Montado, muitas atividades transversais que estão relacionadas com o Montado. São 20 anos com eventos que nos orgulham em torno da valorização do Montado e na defesa da sua sustentabilidade.” Para o autarca “estes encontros entre produtores e investigadores e a partilha de experiências pode trazer benefícios no futuro, incentivando aqueles que têm tipos diferentes de agricultura.”

Por sua vez, a Coordenadora da Rede Rural Nacional, Maria Custódia Correia elogiou a iniciativa ressalvando que “dois dos grandes desafios da agricultura” estão identificados e foram analisados, “a preocupação com a sustentabilidade e as alterações climáticas”, mas a partilha de experiências em iniciativas do género são muito importantes, porque “alguns projetos, na sua experiência e nos seus resultados, vão dizer como fazer algumas coisas. São projetos que podem ser alternativos ou diferentes mas que são projetos de pessoas empreendedoras. Projetos que mais do que utilizar um produto da região, dão-lhe outra roupagem e sabem comercializar. Muitas vezes não é só produzir, usar os recursos (que são escassos) é, também, saber como comercializar. E, alguns dos casos que estão aqui são exemplo disso.”

No primeiro painel da sessão, foi demonstrada a componente técnico-científica de alguns projetos, nomeadamente o de Luís Alcino Conceição que apresentou o projeto Mechsmart Forages - Projeto de Extensão Rural no Âmbito da Aplicação e Demonstração de Tecnologias de Agricultura de Precisão em Sistemas de Agricultura de Conservação. Este projeto, que teve início em 2017 e terminou em 2019, visa a demonstração de uma abordagem integrada de tecnologias de agricultura de precisão, nomeadamente no uso de máquinas agrícolas em sistemas de agricultura de conservação, na implementação e gestão de culturas forrageiras na região do Alentejo, sob o trinómio agronomia - ambiente - energia.

O projeto MechSmart Forages é liderado pelo Instituto Politécnico de Portalegre/Escola Superior Agrária de Elvas num consórcio de parceria com o INIAV Elvas, Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos, CNH Portugal /Miraldino, Farming Agricola /Vicent Giralt, Fertiprado, Agroinsider, Terrapro, APOSOLO e Herdade Nave do Grou.

Luís Alcino Conceição resumiu o projeto, explicando que a escolha do Alentejo se justifica porque “é a principal região pecuária do país”, e em condições de sequeiro há uma limitação da produção e qualidade das pastagens. Assim, neste cenário de alterações climáticas de que tanto se fala, existe a necessidade de intensificar de forma sustentável a produção de forragens para dar suporte aos sistemas extensivos de produção animal no Alentejo. Para o efeito, segundo o investigador, é importante e necessário rever os tradicionais itinerários culturais com novas propostas de base tecnológica assentes na monitorização do solo, das culturas e do uso racional de fatores de produção.

Para já, o balanço do projeto MechSmart Forrages – que ganhou este ano o Prémio Vida Rural ‘Investigação & Desenvolvimento Que Marca’ – é positivo, tendo tido bom rendimento e forragem de qualidade.

No final, analisando a trilogia Agronomia, Ambiente e Energia, Luís Alcino Conceição referiu que houve “melhores condições da estrutura do solo e fertilidade pela não mobilização e maior número de dias disponíveis para a realização das operações mecanizadas”, bem como “mais biodiversidade pelo uso fracionado de herbicidas” e poupança de energia “pela redução do custo de operações mecanizadas, pela digitalização do processo de produção com atuação na cultura no momento desejado”, verificando-se oportunidades ao nível da “circularidade e da digitalização bem como da criação de novos produtos”.

Durante as apresentações do primeiro painel foi possível perceber que se espera que a temperatura aumente e que a precipitação, embora não reduza muito, seja cada vez mais concentrada em fenómenos extremos o que faz com que haja uma redução das produções das diferentes culturas nomeadamente o caso dos cereais.

Neste contexto, Benvindo Maçãs, investigador do INIAV, notou que “vivemos numa zona completamente distinta do que é o resto da Europa desde logo porque chove quando não faz falta, as culturas de primavera/verão só crescem com a água que se lhe põe artificialmente e isso é um dos grandes condicionalismos da agricultura”.

De acordo com o investigador “o que se perspetiva em relação às alterações climáticas é um desafio, uma ameaça e, também, uma oportunidade para a agricultura portuguesa, desde logo na questão dos solos, depois na questão da água e, também, no agravamento da ocorrência dos fenómenos extremos e da variabilidade climática.”

Para a investigação, Benvindo Maçãs afirmou que, neste contexto, em que se prevê a redução da produção em Portugal, o caminho é o da exploração da variabilidade genética, nomeadamente em “três grandes pontos: a rega ou a água; a seleção de variedades adaptadas e por último, a formação das pessoas e dos produtores.”

Numa outra abordagem mais prática, Alfredo Sendim da Herdade do Freixo do Meio, começou a sua intervenção dizendo que “à medida que crescemos em população, pressionamos os ecossistemas e por isso vamos tendo cada vez menos capacidade produtiva. Isto agrava-se com o desafio das Alterações Climáticas. E a grande questão é como é que aprendemos a relacionar-nos com os ecossistemas para que possamos ter uma interação adequada com a nossa casa. Se nós soubéssemos o que é excedente no ecossistema e tivéssemos a inteligência de utilizar apenas esse excedente não destruiríamos o ecossistema. Ninguém sabe o que é o excedente do sistema, o que demonstra quão primária é a nossa interação com os ecossistemas.”

Segundo o orador, o desafio não é apenas “aprendermos a relacionar-nos com os ecossistemas sem os delapidar é, também, que depois disso ter de aprender a deixá-los recuperar, sem que para isso morram 7 ou 8 biliões de pessoas.”

Acrescentou, ainda, que “hoje o sistema natural é baseado em três princípios muito básicos: uma fonte de energia estável e duradoura que é o sol; os ciclos e a economia circular e um terceiro, o sistema de auto regulação porque a natureza não é um jogo ao acaso, é um jogo de experiência e que está assente num sistema de auto regulação.”

Da experiência o orador partilhou que, a Herdade do Freixo de Meio “assenta essencialmente em três princípios baseados numa lógica de agroecologia: um modelo agro-florestal de sucessão dinâmica, ou seja, imitar a natureza deixando que os ecossistemas vão evoluindo essencialmente através de um processo de complexificação de informação; o uso dos animais como ferramentas de restauro do sistema muito antes de serem alimento; um movimento da agricultura apoiada no consumidor.”

Já na segunda parte do programa houve lugar à divulgação e partilha de projetos diferenciadores no Alentejo. No âmbito da Rede Rural Nacional, a DRAP Alentejo, ponto focal da RRN, identificou o total de 16 projetos diferenciadores na agricultura. Uns porque são assentes em novas e inovadoras técnicas agrícolas, outros porque simplesmente apostaram num produto menos comum na Região, ou então projetos que partem do conhecido e dão-lhe uma nova roupagem.

Demonstrativos desta diversidade e da capacidade empreendedora do setor agrícola no Alentejo estiveram presentes os responsáveis por projetos das diferentes sub-regiões do Alentejo, nomeadamente Norte Alentejano, Alentejo Central, Baixo Alentejo e Litoral Alentejano.

A sessão foi moderada por Francisco Pimenta, Diretor de Serviços da Agricultura e Desenvolvimento Agroalimentar da DRAP Alentejo, que desde logo louvou a iniciativa e afirmou que “empreendedorismo significa iniciativa, capacidade e vontade”, pelo que todos os exemplos disso devem ser “incentivados, valorizados e apresentados, porque é replicando estes modelos que podemos conseguir inverter esta tendência a que vamos assistindo, podendo essa replicação significar um esforço de todas as entidades envolvidas, desde logo os próprios, mas seguramente das entidades públicas.”

Dos cinco projetos presentes foi notória a proatividade e resiliência dos produtores face às dificuldades do sector. O azeite de olival tradicional, Amor é cego, de Évora; os iogurtes artesanais DaVaca Laticínios do Monte® de Elvas; o projeto de Uso Eficiente da Água da Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz; a produção de Hortícolas pela Gemüsering Portugal, em Almograve e finalmente, a experiência da Associação de Criadores do Porco Alentejano.

João Rosado, mentor do projeto Amor é Cego revelou que foi o sentimento que esteve por detrás da ideia e que o esforço e carinho a têm conservado.

O produtor partilhou que, em 2015, começou a produzir azeite a partir de um pequeno olival, aproveitando um património oleico plantado pelo avô, há mais de seis décadas. Hoje é produtor de um azeite virgem extra 100% galega, com 0,1 de acidez, extraído a frio, que se revela equilibrado e harmonioso, conservando a matriz da galega: frutado maduro, com notas de tomate e frutos secos e final ligeiramente picante.

Apesar de, como o próprio diz “fazemos coisas diferentes do que o meu avô fazia” a poda que era feita de 4 em 4 anos e, hoje é feita todos os anos o que permite ter “acréscimos de produção e, colhida a azeitona verde, acréscimos de qualidade” e em última análise permite ter um “produto que em termos de qualidade se diferencia”.

Para o produtor o segredo está na “forma cuidada e sem pressas que trata das velhas oliveiras, respeitando as melhores práticas agrícolas e, por isso, acredita que apesar de ter uma baixa produção (7 litros de azeite por cada 100 kg de azeitona), produzem um azeite exclusivo da mais alta qualidade”.

No entanto, “é muito importante o produto ter qualidade, mas é igualmente importante ter uma imagem que permita ao produto diferenciar-se no mercado”. Hoje produz uma média de 500 Litros de azeite, “uma gota de azeite no Alentejo”, mas exportam para 14 países e associaram a componente turística ao projeto, mostram o que fazem e contam a sua história “tentando que as pessoas aprendam algo sobre o azeite”, quando os visitam.

O Azeite Amor é Cego foi o caso de estudo apresentado como modelo de uma pequena exploração agrícola onde a tecnologia é integrada ao longo da produção e apanha da azeitona. A utilização de pentes elétricos é um exemplo, sendo possível desta forma, reduzir o tempo da apanha e minimizar os problemas de safra e contra-safra. A azeitona é enviada para o lagar no próprio dia, encurtando assim o tempo de processamento e garantindo as qualidades biológicas e químicas do azeite.

De seguida, Rui Flores, representante da Herdade do Esporão, falou sobre uso eficiente da água. O técnico apresentou a empresa e a sua estratégia para obter uma produção de qualidade melhorando a eficiência de utilização de recursos, particularmente a água da rega.

Em 2013, a empresa definiu uma estratégia para ultrapassar os problemas de escassez de água no Alentejo, intervindo em aspetos determinantes da qualidade da produção e do uso eficiente dos recursos, particularmente da água de rega. O objetivo geral da intervenção foi melhorar a sustentabilidade económica e ambiental do sistema de produção, tendo em consideração as produções e qualidade dos vinhos a obter, melhorar o conhecimento sobre as variáveis que interferem na eficiência do uso da água, na instalação de equipamentos de monitorização dos consumos de água, na investigação, inovação e formação continuas, em parceria com universidades e centros de investigação.

Posteriormente, Mirjam Buil, do projetoDaVaca Laticínios do Monte: uma estratégia de valorização do leite através da transformação na exploração, apresentou o seu projeto que consiste na criação de uma unidade de produção de iogurtes a partir do leite do dia, como forma de valorizar o produto.

A oradora e o marido partiram de um efetivo de 35 vitelas, investiram em novos estábulos, áreas irrigadas e salas de ordenha, que permitiram um crescimento constante do efetivo que conta hoje com cerca de 500 animais, metade do qual corresponde a vacas em ordenha. A produção anual é de cerca de 2,5 milhões de litros de leite por ano, vendida à cooperativa Serraleite CRL, de Portalegre.

O projeto teve a sua génese nos anos 2008-2009 porque o “preço de leite baixou significativamente e foi nesta altura que nasceu a ideia de fazer a transformação do leite na exploração”. A marca DaVaca Laticínios do Monte® foi registada em 2011. Uma parte das instalações foi adaptada para o fabrico de iogurtes, que se iniciou em 2013, após o licenciamento da fábrica.

A ideia de fazer iogurtes teve como objetivo ganhar autonomia a vários níveis, criando uma marca própria associada a uma imagem atrativa do produto, diferenciado e de toda a linha de sabores.

“Parece que foi uma boa aposta porque não houve outra empresa a tentar fazer a mesma coisa” “Transformamos 5% no entanto, esta pequena parte, representa na facturação perto de 25 %”.

Tal como projeto anterior a produtora acredita que a imagem é muito importante para diferenciar o produto.

Carlos Almeida, representante da Gemüsering Portugal apresentou a estratégia da empresa, gerida por Paul Lenehan, que apostou no Litoral Alentejano por apresentar um potencial agrícola verdadeiramente único em Portugal. A conjugação de fatores edafoclimáticos com uma das maiores e mais significativas obras públicas no domínio do regadio em Portugal – o Aproveitamento Hidroagrícola do Mira, veio aportar uma disponibilidade de água de excelente qualidade e afirmar definitivamente o concelho Odemira como local de eleição para a prática da horticultura.

Com uma área de produção de cerca de 70 ha na área das hortícolas, a empresa representa, juntamente com outras 7 empresas, cerca de 1800 hectares e faturam, anualmente, cerca de 60 milhões de euros.

Apostando continuamente na modernização dos seus equipamentos e numa escolha segura de variedades e formas de apresentação do produto para garantir mercado, a Gemüsering Portugal produz batata-doce, rabanetes, plantas de alho francês e ervas aromáticas essencialmente para exportação para a Alemanha e Holanda

De acordo com o produtor, a grande dificuldade é o caso da escassez de mão-de-obra local, que obriga a empresa a recorrer a mão-de-obra exclusivamente estrangeira.

Já Filipa David Duarte da Associação de Criadores do Porco Alentejano (ACPA) apresentou os diferentes projetos em que a Associação está envolvida e ressalvou a preocupação desta com a gestão sustentável dos montados, que combina produção agrícola e conservação, e que tem vindo a sofrer alterações devido às transformações tecnológicas, económicas e das políticas agrícolas comunitárias.

Apesar de alguns altos e baixos a criação da ACPA, em 1990, fez com que esta raça se mantivesse, fazendo renascer uma realidade adormecida em Portugal. Atualmente, conseguem estar envolvidos em diferentes projetos, entre os quais se destaca o INOVMontado, que tem como “objectivo criar e desenvolver recursos agregadores de informação relativa à promoção da gestão sustentável do Montado e facilitadores da sua disseminação.”

A Sessão “Desafios da Agricultura do Futuro - Projetos Diferenciadores do Alentejo” foi muito produtiva, tendo sido debatidas diversas questões que estão na ordem do dia, numa perspetiva mais técnica e especializada não descurando, no entanto, a componente prática.

Além dos cinco projetos apresentados houve ainda a exposição de todos os restantes projetos identificados no âmbito da RRN. Estavam disponíveis 16 posters que divulgavam projetos diferentes e inovadores. A partilha de projetos, ideias, desafios e oportunidades é uma preocupação da DRAP Alentejo que procura aliar o conhecimento à prática e pôr agricultores em contacto, pois é através da partilha que se chega mais além.

Veja aqui as fotos do evento.

Notícia enviada pelo Ponto Focal do Alentejo.