As áreas ardidas nos fogos do último verão e outono, muitas situadas em encostas com declives acentuados, estão agora sujeitos a erosão se a chuva do próximo inverno cair forte.
Surgem fortes preocupações por parte dos produtores florestais, de dirigentes associativos e de autarcas.
Na edição do jornal Público de 24 de Outubro é publicado texto com recomendações de alguns especialistas.
“O simples processo de retirar os troncos queimados pode destruir mais que os incêndios”, alerta Francisco Moreira, e especialista em recuperação de áreas ardidas. O que é fundamental, por agora, é retirar as árvores que podem provocar acidentes, vender as que ainda têm valor económico e deixar estar as restantes. Com alguns troncos vão-se fazendo sucessivas barreiras pelas encostas abaixo para evitar a perda de solo e criar mini-habitats. Depois é esperar, explica o investigador do Instituto Superior de Agronomia e do CIBIO do Porto.
O eucalipto irá recuperar e os pinheiros, se estiverem em idade adulta, terão armazenado sementes que depois germinarão. As nativas estão também habituadas ao fogo – que sempre fez parte dos ecossistemas mediterrânicos. “Do ponto de vista ecológico, isto não é uma catástrofe, as plantas estão adaptadas ao fogo e a maioria vai regenerar. E o problema pode ser esse: após 2003 e 2005 houve um excesso de regeneração, criou-se um matagal contínuo".
"O que importa é saber o que queremos e fazer uma regeneração natural assistida, controlando umas espécies e potenciando outras”, acrescenta Moreira. Mas a informação para isto ser feito só chega na Primavera. “No sub-bosque dos pinhais e dos eucaliptais estão árvores nativas que só descobriremos quando voltarem a rebentar. Por isso é má ideia ir tudo raso. Fizemos essa experiência em Mafra no pós-fogo: comparámos o sucesso de uma reflorestação com carvalhos de viveiro com aqueles que já lá estavam. Estes últimos sobreviveram mais e cresceram três vezes mais depressa que os de viveiro”, acrescentou o investigador.
Aguarde-se então mas há um perigo imenso à espreita: as espécies exóticas, isto é, as acácias (mimosas) e as haqueas. Adoram fogo, competem com as espécies nativas, ganham sempre e são difíceis de erradicar. “É usar o fogo controlado quando começam a germinar”, sugere Francisco Moreira. Servi-las como repasto a cabras pode ser outra resposta.
Como forma de contribuir para este debate a RRN publica no seu site documento técnico-científico sobre a gestão pós-fogo (solos e extração de madeira queimada) publicado pela então DGRF – Direcção-Geral dos Recursos Florestais com textos de António Diniz Ferreira (ESAC – Escola Superior Agrária de Coimbra, Centro PHOENIX); Joaquim Sande Silva (ESAC – Escola Superior Agrária de Coimbra, CEABN); Maria João Maia (CEABN – Centro de Ecologia Aplicada “Baeta Neves”); Filipe Catry (CEABN – Centro de Ecologia Aplicada “Baeta Neves”)e de Francisco Moreira (CEABN – Centro de Ecologia Aplicada “Baeta Neves”).