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emRede - folha informativa

Finalista do Programa TalentA: "Num meio tradicionalmente masculino, convém pautar pela inovação, logo, o que mais convém é mesmo ser mulher"

Inês Lopes 3Esta terça-feira, dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, foram anunciadas as três finalistas do Programa TalentA 2022. Inês Lopes, de 27 anos, está entre as finalistas, com o projeto “Ptachio”, que visa a produção de pistácio e a recriação de porco alentejano, na zona de Arraiolos, Évora. 

Em entrevista concedida à Rede Rural Nacional a jovem empreendedora revela um pouco da história deste projeto ainda em fase inicial, mas onde a componente humanista e de preocupação social não é esquecida.

Na sua visão sobre o setor, Inês Lopes defende que os recursos hídricos não sejam desaproveitados e que o país se torne mais resiliente às alterações climáticas, ao mesmo tempo promovendo uma agricultura mais competitiva.

Fale-nos um pouco no seu projeto. Como nasceu e que impacto está a ter na região onde está a ser desenvolvido?

O projeto nasceu na primeira empresa a que me dediquei profissionalmente. Esta produzia variedades de diversas culturas e das que tiveram maior aceitação – representando atualmente 90% das novas plantações na Califórnia – foram as variedades de Pistácio.

Estas novas variedades combatiam algumas limitações da produção da cultura em Portugal, nomeadamente, as necessidades em horas de frio e, considerando rentabilidade, rusticidade e resiliência à seca, pareceu-me uma excelente aposta. Porque o Alentejo não pode, nem deve, ser monótono e de uma só cor, decidi que se devia pautar pela manutenção de um certo mosaico mediterrânico, promotor da biodiversidade e de serviços do ecossistema. A integração do montado e do porco alentejano é algo que enriquece todo o ecossistema produtivo, incluindo as parcelas de pistácio.

O projeto ainda está numa fase inicial, porém, quando a componente humanista e de preocupação social está presente, desde cedo se podem ter pequenos impactos naqueles que nos rodeiam. Além do emprego a tempo inteiro gerado, já se reviu em baixa o acordo com a associação de caçadores, de modo a permitir a renovação da sua sede (que alberga vários eventos culturais), já se descobriu que alguma flora local pode servir para tingimento das lãs dos tapetes de Arraiolos (exº: troviscos, índigos, lírio dos tintureiros, cochonilha das piteiras) e já se começou a planear a instalação de um bebedouro para ciclistas e transeuntes da Ecopista.

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Que barreiras encontrou na implementação do seu projeto e no setor por ser mulher (num meio tradicionalmente masculino)?

Num meio tradicional, convém pautar pela inovação, logo, num meio tradicionalmente masculino, o que mais convém é mesmo ser mulher – a forma, portanto, mais inovadora de fazer agricultura é fazê-la no feminino!

Derivadas exclusivamente do facto de ser mulher, julgo não me terem sido impostas nenhumas dificuldades. As dificuldades no nosso setor, feliz ou infelizmente, são independentes do sexo de cada um, passando pelo excesso de burocracia e de “pequenos poderosos” a quem temos de pedir constantes autorizações para, no final, podermos ter o privilégio de os alimentar.

Passando pelo setor financeiro que, desde os mecanismos de gestão de risco aos planos de financiamento, não têm a flexibilidade necessária para acompanhar o jogo de cintura que um agricultor tem de desenvolver ao longo dos anos, derivado do facto do seu ganha-pão depender, tantas vezes, de fatores que não controla.

Passando por um País cuja visão estratégica, ou ausência da mesma, permite um desaproveitamento, diria mesmo, desperdício flagrante daqueles que são os nossos recursos hídricos e não investe para que Portugal se torne mais resiliente às alterações climáticas enquanto promove uma agricultura mais competitiva e mais produtiva.

Que significado tem este prémio para si?

Um prémio sabe sempre bem. Quando vem reconhecer aquele que foi um trabalho árduo ainda é melhor. Só tenho a agradecer à CAP, à Corteva AgriScience e a todas as mulheres do mundo rural que, todos os dias, contribuem com os seus atributos e talentos específicos para colocar a agricultura portuguesa na vanguarda do que é feito a nível mundial.

O Programa TalentA

O programa TalentA foi lançado em 2021 pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e pela Corteva Agriscience e tem como objetivo empoderar as empreendedoras rurais e capacitar os seus projetos com formação e financiamento, contribuindo para a sua expansão. Esta iniciativa pioneira em Portugal soma já mais de 140 inscrições de mulheres rurais na agricultura, das quais, nesta 2ª edição, foram eleitos três novos projetos, de que resultaram numa vencedora e duas finalistas.