O Roteiro realizado nos últimos dias 23 e 24 de abril nos municípios do Fundão e Idanha a Nova, inserido nos “Roteiros Temáticos” da Rede Rural Nacional, deu a conhecer a um grupo de cerca de 40 agricultores provenientes do concelho de Vouzela boas práticas e projetos inovadores na área da agricultura sustentável, com vista a uma alimentação saudável.

No primeiro dia, pela manhã, decorreu a apresentação da BIOECO - Associação de Agricultura Biológica e Agroecológica da Beira Interior, pelo seu presidente e pelo responsável técnico, nas instalações da incubadora de negócios e empresas, localizada no “Espaço do Cidadão” da cidade do Fundão.

A BioEco pretende ajudar a promover e dinamizar a Agricultura Biológica e Agrogeológica da Beira Interior. A Associação está sediada no Fundão e tem como principal objetivo aproximar produtores e consumidores, criando novos canais que facilitem a divulgação e promoção dos produtos biológicos locais.

Após esta sessão, os participantes deslocaram-se à Escola Básica EB23 de Silvares tendo sido acolhidos pela Diretora do Agrupamento de Escolas "Gardunha e Xisto", agrupamento que conta com 22 escolas, entre as quais esta em Silvares. Nesta escola, tem sido desenvolvido com os alunos e em parceria estreita com a Câmara Municipal do Fundão, um trabalho específico, focado na alimentação saudável e na luta contra o desperdício alimentar, no âmbito do projeto AgriUrban. 

Os alunos do 7º ano fizeram a apresentação do projeto “Desperdício Zero”, que foi iniciado há cerca de um ano. De então para cá o desperdício alimentar na cantina desceu para aproximadamente metade, através de pequenas modificações, como por exemplo, não encher tanto os pratos. Existe uma horta junto ao refeitório há cerca de um mês, o que faz evitar as perdas inerentes ao transporte e armazenamento dos alimentos.

Foi criada igualmente uma aplicação para telemóvel, que foi candidatada à Fundação Emídio Pinho. A aplicação encontra-se em teste e serve para calcular receitas saudáveis, inclusivamente através dos desperdícios alimentares e as quantidades de alimento por pessoa. Também são ministrados aos alunos conhecimentos relativos ao acondicionamento dos alimentos no frigorífico.

Seguiu-se o almoço na cantina da escola, que permitiu verificar, não só a qualidade da comida, como os procedimentos inerentes à higiene da cozinha e à luta contra a separação do desperdício alimentar.

Da parte da tarde, o grupo dirigiu-se ao Vale de Alcongosta para uma visita aos pomares de cerejeiras onde foram acompanhados por Filipe Costa, um produtor e associado da Cerfundão,. A área de pomares de cerejeira e pessegueiro tem vindo a aumentar. Neste momento existem cerca de 300 ha de cerejeiras. A Cerfundão trabalha anualmente 1000 ton. de cereja e 1500 ton. de pêssego.

A zona de excelência da produção de cereja é a encosta norte da serra da Gardunha, virada para a serra da Estrela. Embora haja enrelvamento semeado de consociação com ervilhaca, faz-se sobretudo enrelvamento natural. Pode dizer-se que a cereja e o pêssego têm um papel muito importante na economia da região.

O grupo, depois, subiu ao cimo do vale para fazer uma breve visita ao empreendimento de turismo de natureza chamado "Natura Glamping". Este modelo de alojamento congrega o conforto e a inovação do design das instalações com a vivência direta da natureza.

O empreendimento encontra-se a 925 m de altitude, numa localização privilegiada da Serra da Gardunha, virado a norte, com uma vista esplendorosa sobre a Cova da Beira e a Serra da Estrela, devidamente integrado no meio envolvente e vocacionado para um Turismo de Natureza de qualidade.

A fechar o primeiro dia do Roteiro, assistiu-se no Seminário do Fundão ao workshop “Políticas municipais de sustentabilidade”. Foram oradores Adozinda Henriques (DRAPC), Rui Ladeira (Presidente da CM de Vouzela) e Paulo Águas (Vereador da CM do Fundão)

O segundo dia iniciou-se no Centro Cultural Raiano, com receção e boas vindas do Vereador da CM de Idanha-a-Nova, após a qual os participantes puderam conhecer a exposição sobre alfaias e outros utensílios usados na agricultura no século passado.

Seguidamente, procedeu-se à visita ao Centro Documental Raiano, cujo acervo foi doado ao município por um agrónomo e investigador francês (Jean Claude) residente há longa data no concelho. Houve ainda a possibilidade de ser realizado um pequeno colóquio nas instalações do Centro Documental, onde foi debatida a importância da criação de húmus no solo e a prática de uma agricultura eco eficiente e de caráter biológico.

Após o almoço realizou-se a visita à Herdade do Couto da Várzea, em tempos gerida pela Direção Regional de Agricultura, tendo a comitiva sido recebida pelo responsável, Manuel Monteiro, que fez uma apresentação geral da Herdade, atualmente a funcionar como Incubadora de base rural, mediante um contrato assinado em 2011 entre a DRAPC, a Escola Superior Agrária de Castelo Branco e a CM de Idanha-a-Nova.

Ali se encontram algumas empresas que nasceram da incubadora, entre as quais a Living Seeds - Sementes Vivas, SA, que está a desenvolver em Idanha-a-Nova um projeto que inclui produção, investigação e multiplicação de sementes, em modo biológico e biodinâmico, a partir de variedades tradicionais portuguesas.

O projeto perspetiva um investimento muito significativo ao longo dos próximos 15 anos e estima para o mesmo prazo a criação de cerca de 30 empregos qualificados diretos em Idanha-a-Nova, vários postos de trabalho indiretos e o estabelecimento de uma rede de parcerias com múltiplos produtores.

Legumes e hortícolas, ervas aromáticas e medicinais, amaranto, trigo-sarraceno e quinoa são algumas das produções em fresco e de semente, com vista aos mercados de Portugal, Espanha e outros países do sul da Europa.

Estiveram envolvidos na organização deste evento a Direção Regional de Agricultura e Pescas Centro, a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, a Rede Rural Nacional, e as Câmaras Municipais do Fundão e de Idanha-a-Nova e Vouzela.