facebook_cover_out22.JPG
abelhas.jpg
abobora.jpg
cabras.jpg
figoindia.jpg
pinheiro.png
porco.jpg
mirtilo.jpg
serpentinas.jpg
montado.jpg
previous arrow
next arrow

emRede - folha informativa

Opinião: Vamos continuar a precisar de mais estações meteorológicas?

OP agroportalPor: Gonçalo Caleia Rodrigues e Ricardo Braga. Fonte: Agroportal.

A sustentabilidade da agricultura mediterrânica depende, cada vez mais, de uma eficiente gestão dos recursos disponíveis. De todos, o que mais carece de uma adaptação evolutiva é o uso da água nos sistemas de produção. A evidência das alterações climáticas e a conjugação de dois fenómenos – a redução da precipitação e o aumento da temperatura –, expõe o Mediterrâneo, e, em especial, Portugal a regimes de escassez recorrentes com impacto evidente no ciclo vegetativo e na produtividade das culturas.

A melhoria do rendimento agrícola deverá passar por um melhor conhecimento das culturas, do solo e, principalmente, do clima. A agrometeorologia é considerada um dos fatores mais relevantes para uma informada tomada de decisão em agricultura. Contudo, a monitorização agrometeorológica continua a ser insuficiente; a insuficiência de pontos de observação, a (por vezes questionável) qualidade, a indisponibilidade de forma gratuita são alguns dos obstáculos que impedem uma gestão de rega realmente ajustada às necessidades hídricas das culturas.

Contudo, dado os atuais avanços tecnológicos, será que continuaremos a necessitar de mais Estações Meteorológicas Automáticas (EMAs)? Será que não há alternativa às (dispendiosas em custo de aquisição e manutenção) EMAs?

Existem hoje diversas plataformas onde podem ser recolhidos dados meteorológicos que derivam do uso de simulações de modelos numéricos de previsão do tempo com base num conjunto de observações meteorológicas; são exemplo as plataformas a Climate Forecast System Reanalysis (CFSR), a European Centre for Medium-Range Weather Forecasts (ECMWF), a National Center for Environmental Prediction/National Center for Atmospheric Research (NCEP/NCAR), e a NASA Prediction of Worldwide Energy Resource (NASA POWER). Mas serão estes dados fiáveis ?

Num estudo recente que publicámos(que pode ser consultado aqui: https://www.mdpi.com/2073-4395/11/6/1207),  tentou-se avaliar o potencial do uso de dados fornecidos pela NASA através da sua plataforma Prediction Of Worldwide Energy Resources como uma alternativa fácil, fiável e sem custos às observações das EMAs. A plataforma disponibiliza dados diários de temperatura, humidade relativa, precipitação, radiação solar e velocidade e direção do vento para uma malha de 0,5° x 0,5° no mundo inteiro. A facilidade de uso do NASA POWER reside na sua simplicidade, uma vez que podemos consultar os dados para um único ponto ou para uma região por atacado. A sua interface simples permite que qualquer utilizador (mais ou menos experiente) tenha acesso fácil e gratuito a dados meteorológicos em tempo real para qualquer parte do mundo tirar.

Breve vídeo explicativo de consulta da plataforma.

Exemplo da plataforma. Temperatura máxima diária em Coruche (01/01/2020 a 24/06/2021)

No referido estudo, os resultados demonstraram que o NASA POWER é capaz de estimar, com erros marginais, os dados de temperatura máxima e mínima, e radiação solar para a região do Alentejo. Apesar de ainda haver espaço para melhoria, os dados da velocidade do vento e de humidade relativa mostram-se também fiáveis. Com um esforço adicional, que permita corrigir os dados estimados pelas NASA, o erro das temperaturas máxima e mínima e da radiação solar não vão além dos 0,5%; mesmo para o vento e a humidade relativa, os erros de estimativa são inferiores a 3%. Contudo, os dados de precipitação carecem de melhoria; verifica-se alguma discrepância entre as observações terrestres e os dados NASA. Estamos a dedicar estudos a estas potenciais melhorias.

Tais resultados permitem concluir que plataformas como a NASA POWER podem ser úteis para acesso a dados meteorológicos para locais onde não existam estações meteorológicas terrestres, adensando a informação disponível para uma melhor e mais eficiente tomada de decisão, nomeadamente de rega.

Temperatura máxima diária em Beja (01/01/2019 a 31/12/2019): dados observados vs. dados NASA POWER

Se tentarmos estabelecer uma relação benefício/custo entre ter acesso a uma plataforma gratuita, ainda que com um erro marginal de estimativa, e o esforço humano e financeiro de instalar e manter uma estação meteorológica, parece-nos que na maioria dos casos, o benefício se sobrepõe ao custo.

Referência Bibliográfica

1Rodrigues, G.C.; Braga, R.P. Evaluation of NASA POWER Reanalysis Products to Estimate Daily Weather Variables in a Hot Summer Mediterranean Climate. Agronomy 2021, 11, 1207.

Gonçalo Caleia Rodrigues, Professor Auxiliar do Instituto Superior de Agronomia

Ricardo Braga, Professor Auxiliar do Instituto Superior de Agronomia

Artigo originalmente publicado em Agroportal.